Por Rose Pimentel Mader
Depoimento do professor Carlos Nicolosi registrado no livro FEMM 40 anos.
Em seu depoimento no livro da FEMM, por ocasião dos 40 anos da instituição, o professor Carlos Nicolosi recordou os desafios de participar da instalação das primeiras faculdades de Ourinhos.
Graduado em Administração, Economia e Ciências Contábeis e pós-graduado em Auditoria Fiscal e Empresarial pelas FIO, Carlos Nicolosi dedicou cinquenta e cinco anos de sua vida ao ensino, como brilhante professor, conquistando o respeito e a admiração dos alunos, colegas e da comunidade ourinhense. Durante quarenta e cinco anos, manteve um escritório de contabilidade, inicialmente na rua São Paulo e mais tarde na rua Antonio Carlos Mori.
Por ocasião de seu depoimento, aos 82 anos, reviveu, com emoção, as lutas que empreendeu, juntamente com outros companheiros, para que Ourinhos conquistasse sua primeira faculdade e tivesse o Ensino Superior. “Jorge Herkrat me convidou para lecionar na Escola Técnica de Comércio, em meados de 1949, 1950. Aceitei com a incumbência de cuidar da parte disciplinar que enfrentava dificuldades. Inicialmente, fui coordenador disciplinar e depois nomeado vice-diretor. Jorge Herkrat era uma pessoa espetacular. Contei muito com apoio da filha, Rita Luiza, que me ajudou a constituir a faculdade. Nesta querida escola, chamada de Jorginho, iniciei a minha trajetória como professor.
Queria trazer para Ourinhos um curso de nível elevado, mas era tudo muito difícil porque cidades da região, como Bauru, Marília, Avaré já tinham escolas superiores”. Na Escola Jorginho, além de se destacar como professor e coordenador, Nicolosi ganhou notoriedade com a iniciativa de criar a Banda Marcial em 1960, um espetáculo aguardado com grande expectativa pela população, especialmente nos desfiles cívicos de 7 de setembro. “O civismo ajuda muito na parte disciplinar, no comportamento, na formação do espírito patriota de que o Brasil tanto precisa. Minha vontade era melhorar o nível de ensino, porque o ambiente era muito bom e o Jorginho dava toda a liberdade para trabalharmos. A Escola de Comércio tinha o curso técnico de contabilidade. Posteriormente, esse curso foi desvalorizado, pois o técnico de contabilidade não podia mais assinar balanço, só o bacharel em Ciências Contábeis. Alguns técnicos antigos conseguiram o provisionamento como titulando de curso superior.
Por isso, eu e a Rita conversamos sobre a possibilidade de criar uma faculdade de Ciências Contábeis e lutamos para consegui-la. Fomos à Comissão Julgadora de Cursos em Bauru e solicitamos Administração, Economia e Contabilidade. O MEC de Marília mandava os inspetores para a verificação. Achava que o curso de Economia ia se diluir com o tempo, depois Administração ficaria forte e, mais tarde, Contabilidade. Foi o que aconteceu. Houve muitas dificuldades, mas, com o auxílio do então prefeito, Mithuo Minami, e de várias outras lideranças ourinhenses e, sem ter experiência nenhuma, começamos a elaborar o processo de constituição da Faculdade, pelos anos de 1968-69. Mandávamos o processo para o Rio de Janeiro e eles nem tomavam conhecimento.
Fomos ao Rio várias vezes com recursos próprios. Os empresários não eram muito solicitados, mas, quando foram contactados, deram a sua contribuição. Quem nos ajudou muito foi o Hélio Silva, Norival Vieira, Mithuo Minami e Dr. Roald entre outros. Criamos o Centro de Ensino Comercial de Ourinhos, o CENCO. Após alguns anos, surge a primeira faculdade, de Administração, criada em 25 de maio de 1970, aprovada com muita dificuldade. Algumas pessoas criticavam e diziam que não iria para a frente porque era um curso sem posicionamento. Sinceramente, até eu dava mais valor para Ciências Contábeis. O Conselho Estadual de Administração era presidido pelo Dr. Roberto Carvalho Cardoso, uma pessoa excepcional, que muito ajudou a escola na aprovação do processo.
Alugamos o prédio das Irmãs para a instalação da faculdade. Embora tivéssemos, nessa época, ótimos prefeitos, como José Maria Paschoalick, Antonio Luiz Ferreira, Mithuo Minami, Rubens Bortoloci da Silva, financeiramente não havia ajuda da Prefeitura, que passava por dificuldades, mas apoiava a iniciativa e, no final, acabou pagando alguns meses de aluguel. Ocupávamos duas salas no piso superior do prédio do Colégio Santo Antônio. Alguns criticavam, dizendo que havia muito curso vago, mas a Faculdade de Administração e o Centro de Ensino Comercial de Ourinhos sempre foram instituições sérias, nunca houve curso vago. Foi um trabalho muito difícil aprovar, e mais ainda conseguir o reconhecimento. Fomos trabalhando, trabalhando. Tínhamos 120 alunos matriculados, contratamos professores e quem ajudou muito foi a Universidade de São Paulo, com subsídios oferecidos por seus professores.
O professor Edson Castilho, convidado para lecionar, trouxe toda a equipe de Contabilidade para nos ajudar. Nós adotamos de início Contabilidade Introdutória, editado pela ATLAS, ainda considerado um dos melhores livros de contabilidade das Américas. Era uma beleza, não tínhamos problema de espécie nenhuma, a escola funcionava maravilhosamente bem. Quando eu era diretor e Rita, vice-diretora, ela quis ir embora de Ourinhos. Resolveu vender sua biblioteca para a Fundação Educacional Miguel Mofarrej. A Fundação, nessa ocasião, já pleiteava a Faculdade de Ciências e Letras. Para esse trabalho, contamos com o Dr. Roald, um grande batalhador”.
“Nós tivemos muita dificuldade, faltava dinheiro para pagar professores e outras despesas. As Irmãs ajudavam mantendo um aluguel relativamente bom. Como a situação foi piorando, eu pedi para o Nildo Ferrari nos dar uma ajuda. Ele se apaixonou pelo Objetivo e trouxe o sistema de ensino para Ourinhos, o que foi uma maravilha. Houve investimentos em todas as áreas da escola”.
“As dificuldades das Faculdades continuavam. No início éramos só eu e a Rita e, quando ela foi embora, fiquei sozinho por alguns anos. Convidamos então o Nildo Ferrari e o Roque Quagliato para assumirem a FEMM. Eles aceitaram e nos deram apoio para manter e melhorar a instituição. Em quatro ou cinco anos, conseguimos alcançar uma reserva financeira muito grande, mas ninguém queria comprar o imóvel para instalar a faculdade. O Jacinto Sá ofereceu o terreno para construir. Escolhemos a área perto da FATEC, aliás, um local espetacular, mas na época não se fez a doação. O Nildo e o Roque já faziam parte da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, que funcionava paralelamente com o Colégio, no mesmo prédio. A Fundação comprou o Centro de Ensino Comercial de Ourinhos – CENCO – e ficou com a Faculdade de Administração de Empresas, Ciências e Letras, Geografia e alguns outros cursos.
Na ocasião da aprovação de Ciências Contábeis, contamos com a ajuda de Pedro Benjamim Vieira. A minha ideia era também criar o curso de Direito, mas o pessoal não concordava no começo. Mais tarde, com a participação do Roque, foi pleiteado e aprovado Direito que deu um fluxo de desenvolvimento fantástico para as FIO. Antes dessa aprovação, houve a aquisição da área de 27 alqueires para a construção do Campus Universitário das FIO. Já tínhamos Administração, Ciências Contábeis, Ciências e Letras e outros cursos que haviam sido incorporados pela Fundação”.
“Inicialmente, a família Mofarrej não tinha sido muito solicitada, mas, quando isso ocorreu, ajudou tanto financeira como moralmente. Miguel Mofarrej Neto deu-nos uma grande contribuição. No início, como podíamos obter ajuda? Não tínhamos muitos relacionamentos, mas o Roque tinha com muitas pessoas. A família Quagliato inteira começou a ajudar. Muitos empresários de Ourinhos, como Keniche Koga e Haroldo Assumpção, que foi diretor da Mofarrej, também colaboraram. Conforme o Campus foi sendo construído, as FIO foram progredindo, o que levou o Roque e o Nildo a pleitearem novos cursos, que foram aprovados.
Desde o começo, acreditava no sucesso da FEMM e que o Campus das FIO seria uma realidade, por causa da seriedade e do trabalho realizado por Roque e Nildo. Se não fossem eles, a Fundação não teria chegado aonde chegou. O Roque tem uma capacidade administrativa extraordinária e o Nildo também é excelente. Roque e Nildo tiraram a Fundação de uma situação delicada. Contaram com o apoio do promotor de Justiça Adelino Lorenzetti Netto e, também, com o trabalho do advogado Carlos Alberto Barbosa Ferraz. Também os irmãos Fernando, Francisco e Luizito Quagliato deram grande apoio à FEMM. A família Quagliato é uma dádiva para Ourinhos, assim como merecem nosso reconhecimento a família Ferrari e todos aqueles que, imbuídos do espírito humanitário e alicerçados no pilar do idealismo e do trabalho, sonharam e ousaram para que a juventude ourinhense tivesse, em sua própria cidade, a oportunidade de estudar e ter uma profissão”.
Professor Nicolosi encerrou seu depoimento com uma declaração emocionada: “Depois de tantos anos de dedicação, agora como observador dessa grande obra e dos benefícios que ela proporciona para tantos jovens e para a comunidade regional, meu coração se enche de alegria e satisfação. Sinto uma saudade profunda de tudo. Valeu a pena cada esforço, cada luta, cada sacrifício; minha vida valeu a pena. Nas horas difíceis, não fossem a bondade e o apoio de minha mulher Vera, talvez, eu tivesse parado. Obrigado meu amor!”